Rasga a pele num fio, como um fio. A força levemente aplicada, mais, mais e mais... Sente a energia fluir, um formigueiro nos dedos, um frenesim no estômago.
Pende a cabeça para trás, sente o alvoroço, consome-te... Desfruta-a.
Rasga mais um pouco, sente um pouco menos. Não dói. Ouve-a, grita-a.
Sente o quente escorrer... Talvez seja hora de cortar mais um pouco...
Não fujas, tu gostas disto, tu queres isto, tu anseias e procuras isto. Ouve-te! Ridícula!
Deixa-o pintar os teus braços, e pernas, e dedos e mãos. Deixa escorrer para o chão, e a terra e o céu. Chora mais uma vez com pena de ti própria e culpa o resto pelo mal do teu todo.
Observa-te, de novo. Ganhaste nada mais que cicatrizes... Estúpida!
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
Perdidos
Não somos todos? Não estamos todos tão perto e tão longe?
Não estamos todos perdidos?
Eu perdi-me... Perdi-me na tua presença, no teu olhar, nas lágrimas que reprimiste inúmeras vezes, nos sentimentos que em mim cresceram e eu não apercebi.
Tão perto e tão longe... Haverá ainda remédio para ti? Ou serás apenas mais um porto de abrigo que o tempo tratará de destruir e deixar cair no esquecimento de mais um luar?
Em direcções opostas, rastejamos. Rastejo.
Se ao menos ouvisses a mesma melodia... Talvez nem te dês conta. Um dia saberás.
Apercebi-me que tudo girava em volta do talvez, e do talvez se formou a mentira, ou a ilusão... Não sei bem. Recordo o alvorar daquilo que esperava ser interminável, uma canção que ainda me ecoa nos ouvidos...
Não estamos todos perdidos?
Eu perdi-me... Perdi-me na tua presença, no teu olhar, nas lágrimas que reprimiste inúmeras vezes, nos sentimentos que em mim cresceram e eu não apercebi.
Tão perto e tão longe... Haverá ainda remédio para ti? Ou serás apenas mais um porto de abrigo que o tempo tratará de destruir e deixar cair no esquecimento de mais um luar?
Em direcções opostas, rastejamos. Rastejo.
Se ao menos ouvisses a mesma melodia... Talvez nem te dês conta. Um dia saberás.
Apercebi-me que tudo girava em volta do talvez, e do talvez se formou a mentira, ou a ilusão... Não sei bem. Recordo o alvorar daquilo que esperava ser interminável, uma canção que ainda me ecoa nos ouvidos...
Serás tu? Serás
realmente tu, quem me acordou, finalmente, para a perdição?
O meu
pensamento não se desvia... O meu caminho não se desvia... Anulei-me.
De rosa e azul se pinta o céu, das mesmas cores se pinta a ilusão...
Chegou mais um final, é tempo de seguir...
Ainda temos uma vida inteira!
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Choque
Observei a chuva a cair, como um choro incessante, um ruidoso murmúrio aprisionado em pequenos aglomerados de água. As folhas caíram ao sabor da brisa nocturna, como leves plumas caídas do infinito.
Os meus olhos, cansados que estão, observaram o vazio desse entretanto, ou talvez o vazio se tenha formado perante eles. Reprimi-o , tentei enche-lo com a água que caia do céu, e, em segredo, sem ninguém ver, com a água que brotou dos meus olhos.
Entrei em choque, e em choque fiquei, mais uma vez tudo se perdeu entre o nada e o vazio.
Os meus olhos, cansados que estão, observaram o vazio desse entretanto, ou talvez o vazio se tenha formado perante eles. Reprimi-o , tentei enche-lo com a água que caia do céu, e, em segredo, sem ninguém ver, com a água que brotou dos meus olhos.
Entrei em choque, e em choque fiquei, mais uma vez tudo se perdeu entre o nada e o vazio.
domingo, 21 de outubro de 2012
Segura-me, por favor...
Já é tarde... Cá dentro dói tanto...
Infindáveis são os cigarros que já fumei, a tentar apaziguar este frenesim que se me acumula no peito... Quero chorar e não consigo... Quero exprimir-me e não consigo... Quero algum tipo de emoção, algo que me faça sentir e saber que realmente existo e que estou aqui... Dói tanto...
Não quero que penses que sou mais uma alma completamente perdida neste mundo, porque sou, mas teimo em nega-lo... Estou tão perdida como tu...
Sinto-me inerte... Quero gritar! Quero sentir! Quero negar o começo... No fundo sei que já começou!
Eu sou fria, mas quero deixar de o ser... Não sei explicar, tu entende-me melhor do que eu. Fala! Diz-me! Explica-me o que se passa comigo! Tenho medo do medo, e isso aterroriza-me...
Segura-me, por favor...
Infindáveis são os cigarros que já fumei, a tentar apaziguar este frenesim que se me acumula no peito... Quero chorar e não consigo... Quero exprimir-me e não consigo... Quero algum tipo de emoção, algo que me faça sentir e saber que realmente existo e que estou aqui... Dói tanto...
Não quero que penses que sou mais uma alma completamente perdida neste mundo, porque sou, mas teimo em nega-lo... Estou tão perdida como tu...
Sinto-me inerte... Quero gritar! Quero sentir! Quero negar o começo... No fundo sei que já começou!
Eu sou fria, mas quero deixar de o ser... Não sei explicar, tu entende-me melhor do que eu. Fala! Diz-me! Explica-me o que se passa comigo! Tenho medo do medo, e isso aterroriza-me...
Segura-me, por favor...
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Hoje chorei...
Senti o mundo explodir dentro do meu peito... Senti o vazio depois da partida e fui-me abaixo.
Mergulhei na penumbra e deixei-me levar pela corrente. Senti-me sufocar, a água entrou nos meus pulmões como uma melodia e eu não consegui retrair-me.
Deixei-me levar na corrente porque talvez soubesse que seria melhor assim...
Senti tudo desabar por baixo de mim, sem motivo aparente, emoções acumuladas, talvez...
Tudo à minha volta estava turvo, o som abafado, estava submersa. Só conseguia ouvir os meus próprios soluços, sentir o meu corpo estremecer a cada inspiração. A água lavou-me a cara, o corpo... Senti-me exposta na minha mais pura vulnerabilidade. No entanto, sentia o meu coração quente, a ferver, por sentimentos e emoções que nem eu sei descrever... São meus e eu desconheço-os.
Não sei nada. Nada do que me rodeia faz sentido, e eu não o estranho, deixo-me envolver pela incógnita que inseres em mim, pelo calor que advém da tua existência e anulo-me instantaneamente. O meu ser interior perde-se por mil palavras, esqueço-me do que nos envolve e deixo-me aconchegar pelo reflexo que vejo em ti. Perco-me por entre palavras e gestos... E a realidade parece mais pobre quando te ausentas...
Deixo o meu coração desfazer-se neste pequeno texto... Há uma incógnita que permanece por esclarecer, talvez amanhã, talvez hoje, talvez nunca...
Hoje chorei...
Mergulhei na penumbra e deixei-me levar pela corrente. Senti-me sufocar, a água entrou nos meus pulmões como uma melodia e eu não consegui retrair-me.
Deixei-me levar na corrente porque talvez soubesse que seria melhor assim...
Senti tudo desabar por baixo de mim, sem motivo aparente, emoções acumuladas, talvez...
Tudo à minha volta estava turvo, o som abafado, estava submersa. Só conseguia ouvir os meus próprios soluços, sentir o meu corpo estremecer a cada inspiração. A água lavou-me a cara, o corpo... Senti-me exposta na minha mais pura vulnerabilidade. No entanto, sentia o meu coração quente, a ferver, por sentimentos e emoções que nem eu sei descrever... São meus e eu desconheço-os.
Não sei nada. Nada do que me rodeia faz sentido, e eu não o estranho, deixo-me envolver pela incógnita que inseres em mim, pelo calor que advém da tua existência e anulo-me instantaneamente. O meu ser interior perde-se por mil palavras, esqueço-me do que nos envolve e deixo-me aconchegar pelo reflexo que vejo em ti. Perco-me por entre palavras e gestos... E a realidade parece mais pobre quando te ausentas...
Deixo o meu coração desfazer-se neste pequeno texto... Há uma incógnita que permanece por esclarecer, talvez amanhã, talvez hoje, talvez nunca...
Hoje chorei...
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Cansada de respirar
Está frio, muito frio aqui dentro. Estou cansada de escrever, de observar, de ouvir... estou cansada de respirar...
Ouço vozes desconhecidas, contam histórias de outrora, buzinam-me aos ouvidos, riem. Riem tão alto que fazem eco na minha cabeça. Saiam!
Estes vermes que me consomem, que escalam o meu corpo e entram na minha mente sem autorização! Saiam! Monstros imundos e sem escrúpulos! Sugam-me a energia... Deixam-me cansada de respirar.
Ouço melodias alheias, coisas de outros mundos, línguas que desconheço, gargalhadas malévolas e respirações em falso. Estes monstros comem-se uns aos outros!
Observo aqui de cima, os vultos passam lá em baixo, trapaceiros e maldosos, atropelam-se num reboliço sem fim. Saiam! Vigentes de merda! Relógios de corda estragados. Obsoletos e inertes?!
Saiam, monstros malditos!
Drenaram-me... Sugaram-me o sangue e a alma! Deixaram-me cansada, cansada de tanto respirar...
Ouço vozes desconhecidas, contam histórias de outrora, buzinam-me aos ouvidos, riem. Riem tão alto que fazem eco na minha cabeça. Saiam!
Estes vermes que me consomem, que escalam o meu corpo e entram na minha mente sem autorização! Saiam! Monstros imundos e sem escrúpulos! Sugam-me a energia... Deixam-me cansada de respirar.
Ouço melodias alheias, coisas de outros mundos, línguas que desconheço, gargalhadas malévolas e respirações em falso. Estes monstros comem-se uns aos outros!
Observo aqui de cima, os vultos passam lá em baixo, trapaceiros e maldosos, atropelam-se num reboliço sem fim. Saiam! Vigentes de merda! Relógios de corda estragados. Obsoletos e inertes?!
Saiam, monstros malditos!
Drenaram-me... Sugaram-me o sangue e a alma! Deixaram-me cansada, cansada de tanto respirar...
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Relatos
"Rose permanecia sentada no sofá de frente para o janelão da
sala. A televisão, na diagonal do sofá, exibia anúncios e dava um ambiente
ambíguo ao espaço, sendo a única fonte de luz ligada. Fumava enquanto pensava
profundamente, completamente alheia aos anúncios sensacionalistas dos canais privados
finlandeses, curvada sobre si e abraçada aos seus joelhos. As palavras que
deixara escapar sobre as suas origens em frente de Ville, repetiam-se vezes e
vezes sem conta na sua cabeça. (...)
A paisagem gélida à sua frente prendeu de novo a sua atenção
assim que recomeçou a nevar. A neve sempre a fascinara, mas naquele momento
apenas lhe proporcionava memórias, as quais ela já não sabia classificar se
eram boas ou más. Não gostava de recordar, não gostava de relembrar e reviver
emoções, magoavam-na mais que a presente infelicidade. Nunca falara sobre elas
a ninguém, nem mesmo com o seu melhor amigo que dormia no quarto ao lado. Para
ela eram memórias de outra vida, vividas por outra pessoa que não ela.
O sol começava agora mostrar-se, reflectindo-se nas ondas
mais calmas do mar. Rose não o via, mas o céu cada vez mais claro dava conta da
sua presença.
Acendeu outro cigarro e, num pequeno sprint à cozinha, foi
buscar uma garrafa de vodka. Bebeu calmamente, pousando o queixo nos joelhos e
admirou o nascer do sol tardio e gelado. Sorriu com ironia espelhada nos olhos.
Adorava o Inverno, e tal como ele, Rose era fria e desligada de todo o tipo de
emoções, principalmente as que a fizessem fraquejar. Detestava sentir-se
exposta e sujeita a ser magoada. Para ela a única pessoa que a podia magoar era
ela própria. Já não lembrava a última vez que sentira calor dentro de si, na
sua alma. (...) Rose possuía
sentimentos, tinha era medo de os demonstrar, e raiva por ter medo.
Sentia-se tonta e confusa, tantos pensamentos ao mesmo
tempo, misturados com memórias antigas e rasuradas. Duas lágrimas gordas
brotaram dos seus olhos.
Levantou-se e pousou a garrafa no chão, desapertou o cordão
do corpete e este caiu inerte no chão. Sentiu uma forte tontura e sentou-se no
sofá de novo. Pendeu a cabeça para a frente entre os joelhos. A sensação passou
passado alguns segundos e voltou a sentar-se direita.
Acendeu outro cigarro e pegou de novo na garrafa de vodka.
Uma menina, vestida com um vestido amarelo e preto, olhos
brilhantes e um sorriso feliz segurada pelo pai que sorria de volta, foi a
imagem que tomou de assalto a memória de Rose. Uma dor imensa alojou-se no seu
peito, fazendo-a fechar-se sobre si, e abraçando os joelhos apoiou a testa
neles. Chorou silenciosamente durante cerca de uma hora, apenas os seus ombros
moviam e os seus cabelos longos e ruivos oscilavam com eles. Levantou a cabeça
lentamente, o sol já ia alto. Agarrou de novo a garrafa e num rasgo de raiva, bebeu todo o seu conteúdo de uma só vez.
Levantou-se e correu para a cozinha, pegou numa garrafa de vinho branco e
bebeu-a até meio, nunca parando de chorar. Apoiou as mãos na bancada, pendendo a
cabeça para baixo, encarando o chão. As lágrimas caiam e marcavam de escuro a
tijoleira negra da cozinha. Permanecia apenas com o soutien e os jeans justos, o
seu corpo extremamente magro tremia violentamente e Rose caiu no chão de
repente. Queria gritar, queria mexer-se, ainda tentou rastejar
mas foi inútil. A vista tornava-se cada vez mais turva e era difícil manter uma
linha sólida de pensamento. Aos poucos foi-se deixando ir sem questionar, nem
lutar… ela tinha ido para lá do que aquilo que sabia que o seu corpo aguentava,
tinha juntado o álcool, as drogas e as emoções num cocktail, que para ela, era
fatal. Fechou os olhos lentamente à medida que se sentia ser sugada pela
dormência. Pensou que finalmente a morte a tivesse ido buscar."
in "O Diário Secreto de Mary Rose" (Texto Adaptado)
O sangue
Racionalizo, penso, analiso, formato, reinvento, corrijo e volto a redigir. Apago, desenho, crio, destruo, subo, desço e volto a subir. Aumento, diminuo, grito, choro, volto a pensar e volto a redigir.
Mecanizo...
"Eu sou forte." - convenço-me.
E volto a subir ao pódio, levada por mãos imundas que me tocam e me levam para onde eu não quero ir. Mãos dos outros que me infectam, que me poluem e me deixam doente.
Não caminho sozinha, isso eu sei, mas desconcerta-me este fio de sangue que escorre estrada abaixo, mesmo ao meu lado. Debruço-me sobre a tinta vermelha, os pequenos homenzinhos, que outrora carregavam vida, rolam pela calçada, mortos e destroçados.
O cheiro é imundo, desolador: O familiar cheiro a tédio e decadência.
AH! Como querias voltar?
O sangue escorre pelas paredes, pelos carros; o sangue espalha-se à minha volta, consome, um a um, os vultos que caminham em direcções aleatórias, denunciam os impuros.
AH! Não podes esconder! O sangue consumiu-os a todos. O sangue consumiu-me a mim... Não deixo de ser tal e qual a vós!
Mecanizo...
"Eu sou forte." - convenço-me.
E volto a subir ao pódio, levada por mãos imundas que me tocam e me levam para onde eu não quero ir. Mãos dos outros que me infectam, que me poluem e me deixam doente.
Não caminho sozinha, isso eu sei, mas desconcerta-me este fio de sangue que escorre estrada abaixo, mesmo ao meu lado. Debruço-me sobre a tinta vermelha, os pequenos homenzinhos, que outrora carregavam vida, rolam pela calçada, mortos e destroçados.
O cheiro é imundo, desolador: O familiar cheiro a tédio e decadência.
AH! Como querias voltar?
O sangue escorre pelas paredes, pelos carros; o sangue espalha-se à minha volta, consome, um a um, os vultos que caminham em direcções aleatórias, denunciam os impuros.
AH! Não podes esconder! O sangue consumiu-os a todos. O sangue consumiu-me a mim... Não deixo de ser tal e qual a vós!
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Tenho medo...
Sinto-me presa… Sinto-me presa por palavras, sons e imagens.
Sinto-me presa por correntes de ferro forjado, revestido a diamante,
indestrutível.
As palavras são a minha última maneira de expressão… Já nem
o lápis me faz o favor de deitar cá para fora todos os meus fantasmas. Os fantasmas
de todos os dias.
Sinto-me relativamente bloqueada, e tenho medo… Tenho tanto
medo…
Insisto em tentar encontrar respostas, a minha mente está
bloqueada. Não sei se é cansaço ou falta dele. Tenho medo de ficar sozinha…
Tenho medo do mundo, do que me rodeia, e mais medo tenho do
que paira na minha cabeça. Vivo num limbo, na penumbra da loucura…
Eu sei que não parece.
Tenho medo de amar, de magoar… Tenho tanto medo de amar
que nunca fui capaz de o fazer. Eu menti!
Sim, eu menti. Eu sou incapaz de amar, no entanto, desejo
poder fazê-lo… Talvez não me sentisse tão só… Talvez haja alguém a quem eu possa fazer companhia...
Procuro palavras para me exprimir… Não consigo!
domingo, 14 de outubro de 2012
Ódio, ódio...
Se eu ao menos conseguisse expressar o quanto te odeio!
Odeio-te com todas as minhas forças! Com tudo o que tenho...
Não consigo escrever... Só o simples facto de estar no mesmo espaço fechado que tu, dá-me a volta ao estômago, deixa-me doente...
Não desejo que algum dia tenhas de passar pelo mesmo, mas ao menos podias redimir-te de tudo o que fizeste...
Monstros não fazem tal coisa!
Odeio-te com todas as minhas forças! Com tudo o que tenho...
Não consigo escrever... Só o simples facto de estar no mesmo espaço fechado que tu, dá-me a volta ao estômago, deixa-me doente...
Não desejo que algum dia tenhas de passar pelo mesmo, mas ao menos podias redimir-te de tudo o que fizeste...
Monstros não fazem tal coisa!
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Ocupo-me
Ocupo-me. Ocupo-me constantemente...
Ocupo-me e distraio-me, tento ignorar... Não consigo falar, e, neste momento, custa-me a escrever, custa-me a ouvir... Não sei o que sinto, mas a verdade é que sinto...
E o que eu sinto, desconforta-me...
Mãe,
Gostava de ser como tu,
e tenho tanta pena de não ser... És forte e determinada, és rude e
inatingível...
Mãe, gostava de ser como tu...
És o ser que mais me magoa, e, sem dúvida, o que mais me ama. Para ti, nunca nada está bem, nunca nada é correcto, nunca nada é suficiente. Para ti mamã, eu nunca sou suficiente!
Gostava de ser como tu, de gostar do que gostas, de amar o que amas, de querer o que queres... e isso magoa-me tanto!
Estou farta de ser a tua desilusão, a tua mágoa... mas que mais posso eu fazer?
Tudo o que tenho feito, a vida que levo, as opções que faço, são todas em função de ti. Mãe, eu quero ser como tu!
A minha vida neste último ano tem-se resumido a ti, porque nada do que tenho feito me agrada minimamente. Este não é o meu mundo, nem muito menos o que eu sou! Tudo o que fiz foi por ti e para ti!
Queixas-te que não confio em ti? Como? Como? Se eu pus o meu futuro nas tuas mãos? Se eu deixei que determinasses o que devo fazer e como o devo fazer?
Como podes não ver isso?
Não vês que me estas a fazer sofrer? Que me fazes sofrer todos os dias quando me olho no espelho e não vejo nada daquilo que tu gostarias de ver?
Um dia quero ser como tu mamã... Viver no teu mundo.
Por agora não tenho forças, não, não tenho mais forças para me erguer e lutar contra mim mesma.
Queres maior prova de amor?
Eu vou continuar mãe... vou continuar a lutar por ser como tu és. No fundo, e mais uma vez, vou lutar para te agradar!
O meu maior objectivo?
Fazer-te feliz....
Mãe, gostava de ser como tu...
És o ser que mais me magoa, e, sem dúvida, o que mais me ama. Para ti, nunca nada está bem, nunca nada é correcto, nunca nada é suficiente. Para ti mamã, eu nunca sou suficiente!
Gostava de ser como tu, de gostar do que gostas, de amar o que amas, de querer o que queres... e isso magoa-me tanto!
Estou farta de ser a tua desilusão, a tua mágoa... mas que mais posso eu fazer?
Tudo o que tenho feito, a vida que levo, as opções que faço, são todas em função de ti. Mãe, eu quero ser como tu!
A minha vida neste último ano tem-se resumido a ti, porque nada do que tenho feito me agrada minimamente. Este não é o meu mundo, nem muito menos o que eu sou! Tudo o que fiz foi por ti e para ti!
Queixas-te que não confio em ti? Como? Como? Se eu pus o meu futuro nas tuas mãos? Se eu deixei que determinasses o que devo fazer e como o devo fazer?
Como podes não ver isso?
Não vês que me estas a fazer sofrer? Que me fazes sofrer todos os dias quando me olho no espelho e não vejo nada daquilo que tu gostarias de ver?
Um dia quero ser como tu mamã... Viver no teu mundo.
Por agora não tenho forças, não, não tenho mais forças para me erguer e lutar contra mim mesma.
Queres maior prova de amor?
Eu vou continuar mãe... vou continuar a lutar por ser como tu és. No fundo, e mais uma vez, vou lutar para te agradar!
O meu maior objectivo?
Fazer-te feliz....
Um beijo,
Rose
Rose
domingo, 7 de outubro de 2012
Cicatrizes
Pergunto-me enumeras vezes o porquê de nunca ter conseguido seguir em frente... Pergunto-me porque não fui capaz de te parar, ou denunciar, ou simplesmente odiar... Limitei-me a tentar esquecer...
Pergunto-me porque me custa tanto a lembrança de um passado que já não existe, e pergunto-me porque continua tão presente...
Todas as guerras, as lutas, as discussões, as confusões na minha cabeça, coisas que eu não consegui entender durante anos, tornaram-se claras, agora que saí do meu buraco.
Agora, à luz do sol, complexa e sagrada, todas as confusões são simples e transparentes como a água. A minha mente estava danificada, bloqueada, transtornada por factores que nunca dependeram de mim. A culpa nunca foi minha! E eu sei que não foi! Eu juro...
Se pudesse mostrar-te, tu não quererias ver, és cobarde demais para o assumir! E agora já é tarde...
Restam as cicatrizes, indolores e finas. Restam as memórias, dolorosas e cruéis... Resto eu!
Eu ainda penso no passado, e, ultimamente, o cansaço e a solidão trouxeram-me de novo os pensamentos que sempre desencadearam a raiva e o desalinho... Mas eu vejo-as, elas latejam nos meus pulsos, estão lá sempre que eu olho, e não consigo expressar o quanto as odeio...
Eu nunca fui mais do que sou, e nunca serei menos do que era... Eu sempre fui eu, um eu que odiava.
Estas cicatrizes que eu trago comigo, são nada mais que uma guerra travada com o passado, de quando eu me culpava, inconscientemente, por tudo o que me fizeste.
E se me caem lágrimas nas mãos, é porque ainda me magoas... Mas agora sei que sou capaz de te odiar... e isso, é a melhor coisa que me aconteceu!
Pergunto-me porque me custa tanto a lembrança de um passado que já não existe, e pergunto-me porque continua tão presente...
Todas as guerras, as lutas, as discussões, as confusões na minha cabeça, coisas que eu não consegui entender durante anos, tornaram-se claras, agora que saí do meu buraco.
Agora, à luz do sol, complexa e sagrada, todas as confusões são simples e transparentes como a água. A minha mente estava danificada, bloqueada, transtornada por factores que nunca dependeram de mim. A culpa nunca foi minha! E eu sei que não foi! Eu juro...
Se pudesse mostrar-te, tu não quererias ver, és cobarde demais para o assumir! E agora já é tarde...
Restam as cicatrizes, indolores e finas. Restam as memórias, dolorosas e cruéis... Resto eu!
Eu ainda penso no passado, e, ultimamente, o cansaço e a solidão trouxeram-me de novo os pensamentos que sempre desencadearam a raiva e o desalinho... Mas eu vejo-as, elas latejam nos meus pulsos, estão lá sempre que eu olho, e não consigo expressar o quanto as odeio...
Eu nunca fui mais do que sou, e nunca serei menos do que era... Eu sempre fui eu, um eu que odiava.
Estas cicatrizes que eu trago comigo, são nada mais que uma guerra travada com o passado, de quando eu me culpava, inconscientemente, por tudo o que me fizeste.
E se me caem lágrimas nas mãos, é porque ainda me magoas... Mas agora sei que sou capaz de te odiar... e isso, é a melhor coisa que me aconteceu!
Relógios
16 anos, 6 meses, 7 dias e 1 hora de vida…
Não sei do que sinto mais falta, se é do som, do sabor ou do
cheiro, apenas sei que o que queria era que os ponteiros do relógio decidissem
rodar, desta vez, na direcção contrária. Tenho saudades da ingenuidade e da
protecção, do conforto e da clareza… Talvez nos tenhamos perdido algures entre
o tempo e o vazio.
Um ano e alguns segundos, tempo a mais que noutro lugar
seria fatal, o que não significa que não me mate na mesma. A única diferença é
que o relógio não parou nem mudou de direcção.
Existe um horizonte pelo qual passeamos os olhos vezes sem
conta, e sem nos apercebermos do quão paranóicos isso nos faz. Afinal de que
nos serve ele?
Queria voltar a sentir a doce frescura de uma manha de sol,
naquele que era o nosso campo de refugio, eu envolta nos braços que me
trouxeram a este mundo, tu ainda à espera para chegares.
Sei que ainda não o sentes, mas o mundo será ainda mais
cruel para ti, porque não tens armas com que te defender. Mas tu sabes chorar…
eu não.
E se eu mudar a direcção dos ponteiros? Ou e se eu os
atrasar 13 anos?
Um ano e alguns segundos depois, eu escrevo sobre o nada que
se passou entretanto e o tudo que se perde constantemente… a vida é feita de
pequenas coisas, coisas essas que ainda não te apercebeste que existem, mas que
um dia te farão imensa falta.
É disso que eu necessito! É isso que eu quero! Essa tua
inocência… Sei que a tua é bastante diferente da minha, e orgulho-me bastante
desse facto, não foste obrigada a crescer cedo de mais… mas talvez o som não
seja o mesmo que eu ouvi. Por vezes ainda oiço os sinos tocar…
Empresta-me essa tua ignorância involuntária…
E se eu puxasse os ponteiros para trás?
A única coisa de que tenho a certeza é que eles continuariam
a seguir no sentido que lhes foi ensinado.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Velha
Eles vêm quando eu durmo e quando estou acordada, quando eu choro e quando eu rio, quando eu estou em Marte e quando eu estou na Terra, quando eu vou e quando eu venho... É dos pensamentos que eu falo, dos pensamentos que eu pensava ter esquecido. Não, eu não entendo o mundo à minha volta, muito menos entendo o meu mundo à minha volta. Coisas distintas que se unem num cocktail letal para a minha sanidade... Mas isso pouco mais me interessa, visto estar rodeada de malucos! Ninguém nos entende, e nós não nos entendemos, mas eu entendo a tua dor e tu entendes o meu medo. O meu medo dos meus pensamentos. Esses que se repetem em surdina no meu ouvido, que fazem acelerar o meu coração, que me dão vontade de gritar e arrancar a cabeça! Já pouco mais aguento, não só porque dói, a dor passou a indiferente, mas porque me sinto velha. Sim, eu sinto-me velha, velha, gasta e usada... Por mais que eu tente, nunca vou conseguir tirar estes pensamentos, estas memórias que me tolhem o raciocínio, nunca vou conseguir esquecer... Só queria poder esquecer, para acreditar que poderia ter sido tudo uma mentira....
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Neve
A neve continua a cair incessantemente enquanto eu permaneço imóvel diante
da janela. O infinito mar de pérolas brancas e puras amontoa-se à minha frente.
As nuvens serradas e a névoa ténue incapacitam-me de ver mais além que o prédio
em frente e carros que, agora, passam com lentidão por baixo do viaduto.
Sempre encontrei paz e sossego na neve, ela sempre me fez sentir bem. Não sei se é por ser silenciosa, ou por ser branca, ou se é apenas por ser esplendorosa na sua mais pura simplicidade. Sinceramente, não sei. Só sei que me faz sentir bem.
Onde está a cidade?
O frenesim de todos os dias está agora apagado… Onde está toda a gente?
A casa está vazia, vazia e quente, e assim permanecerá. O tempo não volta atrás, não é assim?
Sento-me no beiral da janela e encosto a cabeça ao vidro. Frio.
Fecho os olhos… no meu mundo, aqui dentro da minha cabeça, a neve continua a cair, o silêncio permanece, mas a paz desaparece. Continuo incapacitada de fechar os olhos e não ver nada. Tudo voltou… o medo, a fúria, a raiva.
É curioso como tudo parece perder o brilho em segundos… Abro os olhos. Já nada na neve me fascina. Tanta calma, tanto silencio… A neve faz-me lembrar a morte!
Um dia morrerei para sempre… só nunca mais vejo chegar a data desse dia…
As minhas mãos tremem. Olho para elas, e a tatuagem no pulso chama a minha atenção. Outrora me fizera feliz, na sua simplicidade e falta de estética, mal feita, sem graça…
É como eu…
Sempre encontrei paz e sossego na neve, ela sempre me fez sentir bem. Não sei se é por ser silenciosa, ou por ser branca, ou se é apenas por ser esplendorosa na sua mais pura simplicidade. Sinceramente, não sei. Só sei que me faz sentir bem.
Onde está a cidade?
O frenesim de todos os dias está agora apagado… Onde está toda a gente?
A casa está vazia, vazia e quente, e assim permanecerá. O tempo não volta atrás, não é assim?
Sento-me no beiral da janela e encosto a cabeça ao vidro. Frio.
Fecho os olhos… no meu mundo, aqui dentro da minha cabeça, a neve continua a cair, o silêncio permanece, mas a paz desaparece. Continuo incapacitada de fechar os olhos e não ver nada. Tudo voltou… o medo, a fúria, a raiva.
É curioso como tudo parece perder o brilho em segundos… Abro os olhos. Já nada na neve me fascina. Tanta calma, tanto silencio… A neve faz-me lembrar a morte!
Um dia morrerei para sempre… só nunca mais vejo chegar a data desse dia…
As minhas mãos tremem. Olho para elas, e a tatuagem no pulso chama a minha atenção. Outrora me fizera feliz, na sua simplicidade e falta de estética, mal feita, sem graça…
É como eu…
A minha vontade é de renascer, de voltar a ser quem era e sobre tudo voltar
a ser feliz. Não ter que acordar todos os dias com vontade de permanecer
inconsciente. Quero acordar todos os dias e ser capaz de amar… Quero ser capaz
de amar por trás destes olhos verdes e frios, porque por baixo desta capa de
gelo existo eu, um eu que nem eu conheço. Um eu incapaz de se exprimir. Um eu
que está a morrer por não conseguir respirar. Um eu que anseia morrer para
viver de novo…
(Janeiro de 2011)
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Tudo existe
Só me apetece perder-me… Perder-me na minha imaginação. E
que ninguém me acorde!
O mundo não existe, o sonho não existe, nem as palavras,
nem as lágrimas… nem tu, nem eu, nem ninguém! No fundo, somos nada…
Um nada que se perde, na minha imaginação. Na água…
Debaixo de água.
Debaixo de água tudo se perde, até a minha imaginação.
Não existes tu, não existo eu… Tudo se apaga, fica apenas o meu mundo. Esse,
sim, existe! Então eu existo, e tu existes, porque tu existes no meu mundo, e
no meu mundo existe o sonho, e a palavra, e as lágrimas…
Então existe, tudo existe!
Marcas
Quando éramos pequeninos ensinaram-nos a andar, a falar, a
escutar.
Aprendemos e crescemos. Cometemos erros e caímos, mas também
nos foi ensinado como nos devemos levantar.
Os anos passaram, e aos poucos começaste a corta-me as
pernas, até aos tornozelos. A regeneração foi instantânea. Retomei o meu caminho
e perdoei-te como sempre fiz.
Anos mais tarde ele apareceu e algum tempo depois decidiu
cortar mais um pouco. Desta vez rastejei, e encontrei nessa forma de progredir
uma maneira fácil de não ter de me levantar. Mas cheguei a um ponto em que não
aguentei mais, pois estava a ficar para trás…
Agora outra pessoa apareceu, cortou-me as pernas pelos
joelhos, e eu não sou capaz de me levantar… tinha prometido a mim mesma que
depois da segunda não haveria uma terceira. Como estava errada! No entanto, já
não sei quem cortou mais, se foi esta pessoa, ou se foste tu ao longo dos anos…
ou se fui eu. Nunca vou conseguir ultrapassar o medo… mas a verdade é que
quando se rasteja, já não se pode cair…
O papá não me bateu
hoje… - disse a menina em surdina para o pequeno urso de peluche, feliz, antes
de adormecer.
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