segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Marcas


Quando éramos pequeninos ensinaram-nos a andar, a falar, a escutar.
Aprendemos e crescemos. Cometemos erros e caímos, mas também nos foi ensinado como nos devemos levantar.
Os anos passaram, e aos poucos começaste a corta-me as pernas, até aos tornozelos. A regeneração foi instantânea. Retomei o meu caminho e perdoei-te como sempre fiz.
Anos mais tarde ele apareceu e algum tempo depois decidiu cortar mais um pouco. Desta vez rastejei, e encontrei nessa forma de progredir uma maneira fácil de não ter de me levantar. Mas cheguei a um ponto em que não aguentei mais, pois estava a ficar para trás…
Agora outra pessoa apareceu, cortou-me as pernas pelos joelhos, e eu não sou capaz de me levantar… tinha prometido a mim mesma que depois da segunda não haveria uma terceira. Como estava errada! No entanto, já não sei quem cortou mais, se foi esta pessoa, ou se foste tu ao longo dos anos… ou se fui eu. Nunca vou conseguir ultrapassar o medo… mas a verdade é que quando se rasteja, já não se pode cair…

O papá não me bateu hoje… - disse a menina em surdina para o pequeno urso de peluche, feliz, antes de adormecer.

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