terça-feira, 2 de outubro de 2012

Neve


A neve continua a cair incessantemente enquanto eu permaneço imóvel diante da janela. O infinito mar de pérolas brancas e puras amontoa-se à minha frente. As nuvens serradas e a névoa ténue incapacitam-me de ver mais além que o prédio em frente e carros que, agora, passam com lentidão por baixo do viaduto.
Sempre encontrei paz e sossego na neve, ela sempre me fez sentir bem. Não sei se é por ser silenciosa, ou por ser branca, ou se é apenas por ser esplendorosa na sua mais pura simplicidade. Sinceramente, não sei. Só sei que me faz sentir bem.
Onde está a cidade?
O frenesim de todos os dias está agora apagado… Onde está toda a gente?
A casa está vazia, vazia e quente, e assim permanecerá. O tempo não volta atrás, não é assim?
Sento-me no beiral da janela e encosto a cabeça ao vidro. Frio.
Fecho os olhos… no meu mundo, aqui dentro da minha cabeça, a neve continua a cair, o silêncio permanece, mas a paz desaparece. Continuo incapacitada de fechar os olhos e não ver nada. Tudo voltou… o medo, a fúria, a raiva.
É curioso como tudo parece perder o brilho em segundos… Abro os olhos. Já nada na neve me fascina. Tanta calma, tanto silencio… A neve faz-me lembrar a morte!
Um dia morrerei para sempre… só nunca mais vejo chegar a data desse dia…
As minhas mãos tremem. Olho para elas, e a tatuagem no pulso chama a minha atenção. Outrora me fizera feliz, na sua simplicidade e falta de estética, mal feita, sem graça…
É como eu…
A minha vontade é de renascer, de voltar a ser quem era e sobre tudo voltar a ser feliz. Não ter que acordar todos os dias com vontade de permanecer inconsciente. Quero acordar todos os dias e ser capaz de amar… Quero ser capaz de amar por trás destes olhos verdes e frios, porque por baixo desta capa de gelo existo eu, um eu que nem eu conheço. Um eu incapaz de se exprimir. Um eu que está a morrer por não conseguir respirar. Um eu que anseia morrer para viver de novo…

(Janeiro de 2011)

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